Santos: Financiamento de R$ 70 Milhões Assegura Compra do CT Rei Pelé em Leilão

O Clubes de Regatas do Santos, uma das mais tradicionais agremiações do futebol brasileiro, posiciona-se com notável segurança para garantir a posse definitiva do Centro de Treinamento Rei Pelé. O complexo, avaliado em aproximadamente R$ 70 milhões, foi disponibilizado para venda por intermédio de um leilão autorizado pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU). A confiança da diretoria santista reside em um acordo financeiro crucial, estabelecido com uma instituição bancária cujo nome permanece sob sigilo, após a inviabilidade de um acerto inicial com a Caixa Econômica Federal.

A jornada para solidificar essa aquisição é um testemunho da intensa articulação política empreendida pela gestão do clube. Sob a liderança estratégica de Júnior Bozzella, assessor especial da presidência e ex-deputado federal, o Santos trabalhou incansavelmente junto ao Governo Federal, à Prefeitura de Santos e à própria SPU. Essa coordenação de esforços foi fundamental para postergar o início do processo de leilão em alguns meses, um período vital para a captação dos recursos necessários e para dissipar o receio de perder um patrimônio de valor inestimável.

A área de treinamentos do Peixe, localizada no bairro do Jabaquara, abrange uma extensão total de 39.027,56 m², com 3.366,92 m² de área construída. Embora o CT Rei Pelé pertença à União, sua gestão está sob a responsabilidade do Santos desde 1996, por força de uma concessão pública. O caminho até o leilão, contudo, não foi sem obstáculos.

Manobras Políticas e o Apoio Governamental

O processo de salvaguarda do terreno teve seu início em 2024, quando a SPU intensificou a pressão para colocar a propriedade à venda. A justificativa residia em supostos descumprimentos de requisitos por parte do clube, especialmente no que tange às "compensações sociais" exigidas para manter o caráter de doação da área. Essa pendência impediu que a diretoria santista buscasse a renovação da concessão por mais três décadas, uma alternativa inicialmente sugerida pelo próprio Governo Federal, direcionando as negociações para o modelo de leilão.

A atuação de Júnior Bozzella foi central nesse intrincado cenário. Suas visitas semanais à capital federal resultaram em encontros estratégicos com figuras de peso, como André Fufuca, Ministro dos Esportes, e Gleisi Hoffmann, Ministra da Secretaria de Relações Institucionais do Brasil. A dimensão da articulação alcançou até mesmo uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um indicativo da relevância atribuída ao tema nas mais altas esferas governamentais.

Paralelamente à diplomacia em Brasília, o Santos concentrava-se na busca por meios financeiros robustos para assegurar a compra do terreno em caso de leilão. Embora um diálogo de seis meses com a Caixa Econômica Federal para o alinhamento de crédito não tenha se concretizado, com o banco declinando o acordo previamente sinalizado, o clube agiu prontamente. A alternativa encontrada no mercado financeiro garantiu o respaldo necessário, conferindo à diretoria a tranquilidade para arrematar a compra do patrimônio.

Protegendo o Legado: A Estratégia de Barreira aos Concorrentes

Um dos trunfos mais recentes obtidos pelo Santos envolve a Prefeitura Municipal. Atualmente, tramita na Câmara um projeto de lei que visa restringir o uso da área do CT Rei Pelé exclusivamente a fins esportivos. Essa medida, se aprovada, é um movimento estratégico que elimina a possibilidade de entrada de concorrentes de grande porte no leilão, que poderiam ter interesses imobiliários ou comerciais na valiosa propriedade. A prioridade de compra do clube, aliada a essa restrição de uso, fortalece consideravelmente sua posição.

Em julho, o assessor especial da presidência santista se reuniu com Adílson Júnior, presidente da Câmara Municipal de Santos , para alinhar os detalhes sobre a destinação estritamente esportiva do local. Esse encontro representou uma das últimas etapas da articulação antes da publicação da autorização do leilão no Diário Oficial da União. A visão de preservar o complexo é compartilhada por Bozzella, que ressaltou em contato com a imprensa:

"Estamos salvando um patrimônio importante e um legado de um clube centenário. Esse patrimônio é eterno. É uma conquista gigantesca."

Ainda que a data oficial, o edital completo e o valor mínimo para o leilão do CT Rei Pelé não tenham sido divulgados, o Santos se encontra em uma posição de notável segurança. O respaldo financeiro consolidado e as amplas frentes de articulação política asseguram que o patrimônio histórico do clube permaneça sob sua égide, um passo fundamental para o futuro da instituição.