Santos se destaca em ranking de jovens no Brasileirão 2025

O sucesso de uma equipe no futebol moderno não se restringe apenas às contratações de peso, mas passa, obrigatoriamente, pela capacidade de integrar talentos vindos das categorias inferiores. No Brasileirão 2025, essa tendência se consolidou diante de um calendário sufocante e do alto índice de lesões, forçando os treinadores a olharem para dentro de seus centros de treinamento. O cenário atual revela que oito agremiações conseguiram dar rodagem a pelo menos dez atletas formados em casa durante a competição.

Para que esse processo de transição não queime etapas preciosas, a tecnologia e o suporte psicológico tornaram-se pilares fundamentais. Sven Muller, CMO do aplicativo CUJU, ressalta que a inteligência artificial tem sido uma ferramenta vital para identificar promessas antes mesmo de chegarem ao grande público. Segundo ele, ?A transição da base para o profissional exige cada vez mais precisão na tomada de decisão. A avaliação tradicional, por si só, já não acompanha a complexidade do futebol moderno. A tecnologia permite entender o atleta de forma muito mais profunda, analisando os padrões de desempenho, evolução física e cognitiva, além de identificar potencial antes mesmo de ele aparecer nos grandes palcos. Quando os clubes têm acesso a informações mais consistentes, a chance de errar diminui e o caminho do jovem se torna mais claro e estruturado. Esse é o tipo de virada que pode transformar a formação no Brasil nos próximos anos?.

Complementando a visão tecnológica, o aspecto emocional é apontado como o divisor de águas entre o sucesso e o anonimato. Mariah Theodoro, psicóloga da Volt Sports Science, alerta para a necessidade de blindar os jovens das pressões externas, sejam elas vindas de familiares, agentes ou redes sociais. Em sua análise, ?É fundamental cuidar do atleta por inteiro ? nas esferas técnica, emocional e social ?, e o psicológico é a base para que ele não se deixe levar por ruídos externos. Quando o ambiente inteiro entende que o desenvolvimento não é uma linha reta, o atleta se sente seguro para crescer sem pânico ou urgência. Isso reduz a ansiedade, diminui o ruído externo, e aumenta o desempenho real. Por isso dizemos que é fundamental intervir de forma inteligente em todo esse processo, para favorecer o amadurecimento e a autonomia, além de possibilitar que o atleta aprimore a tomada de decisão e mantenha os pés no chão?.

O DNA Santista e o Ranking de Utilização no Brasileirão

O Santos, historicamente reconhecido como o maior celeiro de craques do país, manteve sua postura de vanguarda ao utilizar 12 jogadores formados em sua base nesta edição do campeonato. O destaque absoluto fica para o retorno de Neymar, que, embora seja o nome mais experiente do grupo, simboliza a essência da formação na Vila Belmiro. A presença do astro se soma a uma nova safra que busca seguir os passos de gerações vitoriosas que marcaram os últimos 25 anos do clube.

Abaixo, apresentamos os dados detalhados das equipes que mais deram oportunidades aos seus jovens talentos na atual temporada do futebol brasileiro:

Sobre a filosofia do Peixe, o presidente Marcelo Teixeira reforça que a missão do clube transcende as quatro linhas, focando no impacto social e na transformação de vidas. O mandatário santista pontua: ?O futebol tem uma razão especial, que é a ação social. Meninos e meninas buscam nas grandes equipes uma oportunidade de vida, e nós temos o dever de oferecer isso. É um erro um clube planejar suas divisões de formação apenas pensando no placar. O Santos tem que continuar sendo referência em revelar talentos para transformar vidas?.

Estratégias de Maturação e a Influência das SAFs

Enquanto o Santos foca em sua identidade histórica, outros clubes buscam modelos alternativos para acelerar o desenvolvimento de seus ativos. O Juventude, por exemplo, apostou em um intercâmbio com o Osasuna, da Espanha, para dar experiência internacional a jovens como Marlon Santos . Já no Internacional, o diretor Luiz Caldas Milano Junior enfatiza a preparação individualizada: ?Temos um compromisso constante de preparar nossos atletas para a transição ao elenco profissional. Cada jovem recebe acompanhamento individualizado, técnico e psicológico para que possa evoluir gradativamente. Sabemos que o futebol é imprevisível e a oportunidade pode aparecer quando menos se espera. Por isso, nosso objetivo é prepará-los de forma integral para que, quando eles receberem essa chance, possam ter tranquilidade para entrar em campo e performar em alto nível?.

Entretanto, a pressa do mercado nem sempre caminha junto com o tempo biológico e técnico do atleta. No Fluminense, que utilizou seis jovens no torneio, o técnico Luis Zubeldia expressou preocupação com o imediatismo que cerca as promessas. Em tom crítico, o treinador afirmou: ?O processo hoje em dia no futebol está muito rápido. Não te deixam formar com tranquilidade os jogadores juvenis. Todo o entorno lhe faz crer que é a figura, o melhor. E vem o empresário, o pai, a mãe, o irmão, os meios de comunicação, as redes sociais e fazem o mesmo?.

A ascensão das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) também altera a dinâmica de revelação, focando na rentabilidade e na exportação precoce. Guilherme Bellintani, CEO da Squadra Sports, explica que o modelo de multipropriedade (MCO) visa otimizar lucros em janelas de transferência. De acordo com o executivo, ?Sabemos da importância da formação de um atleta, ainda mais quando estamos falando de uma plataforma MCO, em que as negociações possuem uma margem de lucro maior entre as operações. Hoje, temos categorias sub-11 e sub-12 já fortalecidas e estamos focando na captação de jogadores entre 18 e 23 anos, faixa etária em que o jovem podem subir de forma mais rápida para o profissional, o que pode acarretar em uma negociação para outro mercado e alavancar as receitas?.

O Caso Zé Lucas e o Investimento em Captação

Um exemplo de sucesso individual nesta temporada foi o jovem Zé Lucas, do Sport. Com apenas 17 anos, o atleta participou de 34 jogos no time principal, atraindo olhares do futebol europeu. Esse fenômeno é creditado ao investimento estrutural feito pelo clube pernambucano nos últimos anos.

Lucas Nóbrega, coordenador de captação do Sport, analisa que o surgimento de tais talentos não é fruto do acaso, mas de uma metodologia sólida. Segundo Nóbrega, ?O caso de atletas como o Zé Lucas é o reflexo direto de um trabalho estruturado e contínuo. O investimento feito pelo clube nos últimos anos, tanto em estrutura quanto em metodologia, tem sido fundamental para que esses talentos se desenvolvam dentro de um ambiente de alto nível?.

O debate sobre a utilização da base no Brasil permanece vivo. Se por um lado a necessidade financeira e técnica empurra os jovens para o campo, por outro, a estrutura de apoio e a paciência na maturação tornam-se os verdadeiros diferenciais entre uma revelação passageira e um craque consolidado no cenário mundial.