Neymar x Alan Patrick: O Duelo dos Camisas 10 Forjados na Vila Belmiro

Em meio à disputa acirrada do Campeonato Brasileiro, a 16ª rodada reserva um confronto de especial significado na Vila Belmiro. Nesta quarta-feira, às 21h30, Santos e Internacional se encontrarão em um embate que transcende a mera busca por pontos. O palco, consagrado por lendas, será testemunha do reencontro de dois dos mais notáveis camisas 10 do futebol nacional: Neymar, a figura central do Peixe e incontestável talento brasileiro da última década e meia, e Alan Patrick, o maestro do meio-campo colorado, reconhecido como o melhor meia do último Brasileirão e um dos destaques da Conmebol Libertadores de 2023. Mais do que adversários, são amigos de longa data, cujas carreiras profissionais, embora divergentes, tiveram suas raízes fincadas no mesmo solo fértil da base santista.

Este embate não é apenas um jogo; é um reencontro de protagonistas, cada um com a braçadeira de capitão e a responsabilidade de guiar suas respectivas equipes. A trajetória que os trouxe até aqui é singular, mas o ponto de partida foi idêntico, moldado nas categorias de formação do Alvinegro Praiano, um celeiro de talentos.

A Gênese de Craques: Da Base Santista ao Protagonismo Nacional

A história de como esses dois atletas se uniram ao Santos é um testemunho da visão do clube em identificar e nutrir talentos precoces. Alan Patrick , ainda um menino de 13 anos, chamou a atenção de Alberto Vieira, então integrante da equipe de base do Peixe, durante uma partida em que defendia o projeto Bola na Rede, de Catanduva. Vieira recorda os primeiros passos: "Mandei pegar o telefone da família e fomos atrás, só que não tinha categoria para ele."

Paralelamente, a fama de um garoto ainda mais jovem, com apenas 12 anos, já ecoava pela região. Neymar era monitorado pela equipe de Alberto desde os seis anos, em virtude de seu desempenho no futsal. O próprio craque relembrou, em entrevista, a repercussão de seu talento: "O meu nome já rodava na Baixada (Santista). Era um dos famosos da molecadinha. Foram ver e se encantaram. Fizeram a proposta para eu ir ao Santos , mas não tinha categoria para minha idade."

Diante da necessidade de reter essas promessas, o Santos tomou uma decisão estratégica: criar novas categorias em sua base. "Montaram as categorias para que eles jogassem no Santos ! Sub-12 para o Neymar , sub-13 ao Alan Patrick e sub-14 para o Serginho, que voltou ano passado e agora está na Ponte Preta", detalha Alberto Vieira. Foi nesse ambiente que a parceria e a amizade entre Alan Patrick e Neymar se fortaleceram, não apenas nos gramados, mas também nas concentrações, onde compartilhavam a paixão por videogames e, especialmente, pela música. Alan Patrick é conhecido por seu banjo, enquanto Neymar , com sua inseparável caixa de som, tem Thiaguinho como um de seus grandes amigos, parte da "Diretoria". Um registro antigo nas redes sociais, que ainda circula, captura os dois atletas dançando ao lado de André Balada em um palco de show de pagode, ilustrando a profundidade de seu vínculo.

Trajetórias Distintas, Impacto Semelhante: O Legado dos Camisas 10

A partir da ascensão ao futebol profissional, os caminhos de Neymar e Alan Patrick tomaram rumos distintos, mas ambos alcançaram o status de protagonistas em suas respectivas esferas. Neymar , no Santos , rapidamente confirmou as expectativas, liderando o time a conquistas históricas como a Conmebol Libertadores, Copa do Brasil, Recopa e três Campeonatos Paulistas. Sua jornada o levou ao Barcelona, onde fez história ao lado de Messi e Suárez, acumulando títulos, antes de uma passagem pelo PSG e, mais recentemente, pelo Al-Hilal, marcada por algumas lesões. Pela Seleção Brasileira, ele mantém o posto de figura principal desde a era pós-Copa do Mundo de 2010.

Alan Patrick , por outro lado, enfrentou a concorrência de Paulo Henrique Ganso no Santos e optou por uma transferência para o Shakhtar Donetsk no segundo semestre de 2011. No leste europeu, construiu uma sólida carreira até seu retorno ao Internacional em 2022, oito anos após sua primeira passagem pelo Beira-Rio. De volta ao Brasil, ele reassumiu o papel de destaque, encerrando um incômodo jejum de nove anos sem títulos para o Colorado, ao liderar a conquista do Campeonato Gaúcho desta temporada. Sua consistência o mantém frequentemente entre os principais nomes das competições, e seu desempenho o credenciou a ser incluído na pré-lista de Carlo Ancelotti para os jogos da Seleção Brasileira pelas Eliminatórias contra Equador e Paraguai.

Apesar das carreiras divergentes, a amizade entre os dois não apenas persistiu, mas se fortaleceu. As redes sociais frequentemente exibem registros dessa parceria, e o carinho mútuo se manifesta em declarações públicas. Neymar , por exemplo, expressa satisfação com o bom momento do amigo: "Não é surpresa para mim. É o Alan Patrick , um craque. Fiz a base com ele e fico muito feliz que esteja muito bem no Inter", afirmou em entrevista.

O Duelo Tático e a Promessa de Gols: Quem Levará a Melhor?

O confronto desta quarta-feira coloca em campo dois atletas em fases distintas, mas igualmente cruciais para suas equipes. Alan Patrick é a principal esperança dos gaúchos para conquistar a primeira vitória como visitante no Brasileirão. Sua forma recente é notável: ele marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Ceará no domingo, e acumula 12 gols e 11 assistências em 27 partidas na temporada. Este será o décimo encontro do meia contra o Santos , com um retrospecto de quatro vitórias, cinco empates, dois gols marcados e duas assistências. No duelo mais recente, ele foi o grande destaque na goleada implacável de 7 a 1 no Beira-Rio em 2023.

Neymar , em seu retorno ao Peixe, participou de 14 jogos, balançando as redes quatro vezes e contribuindo com três assistências. Embora não tenha conseguido evitar a derrota por 3 a 0 para o Mirassol na última rodada, sua capacidade de decidir jogos foi evidente na vitória por 1 a 0 sobre o Flamengo. Ele fará seu oitavo duelo contra o Internacional, com duas vitórias, quatro empates e uma derrota. Já marcou cinco gols contra o Colorado, sendo três deles na vitória por 3 a 1 na Vila Belmiro em 2012 pela Libertadores, um gol que inclusive lhe rendeu o terceiro lugar no Prêmio Puskás daquele ano.

A análise de Zé Roberto, ex-camisa 10 do Santos , resume a dinâmica do confronto: "O Alan Patrick comanda o meio com sua criatividade. Mas, se o Neymar estiver inspirado e o Santos controlar o setor, pode complicar a vida do Inter. No cenário atual, com desempenho mais regular, entra como favorito." Na casa do Rei Pelé, dois de seus "súditos" tentarão justificar o peso da camisa 10. O Santos , em 17º lugar com 14 pontos, abre a zona de rebaixamento, enquanto o Internacional, em 12º com 17 pontos, busca consolidar sua posição na tabela. O resultado deste embate não definirá apenas três pontos, mas também a narrativa do reencontro entre dois amigos que se tornaram adversários de peso no cenário nacional.