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Gustavo Carmo, Ex-Santos e Neymar, Lidera SAF e Expõe Racismo no Futebol Brasileiro

Por Redação FutSantos em 20/11/2025 15:42

O universo do futebol, frequentemente celebrado por sua diversidade em campo, revela uma realidade distinta nos bastidores. "Quando você precisa ser visto não só como mão de obra, você vê a escassez de oportunidade", afirma Gustavo Carmo, presidente da SAF do Cianorte, equipe do interior paranaense que compete na Série D. Sua trajetória é notável: um dos raros dirigentes negros nas quatro principais divisões do esporte nacional, Carmo, que já dividiu gramados com Neymar na base do Santos, personifica os desafios da representatividade fora das quatro linhas.

Na liderança do "Leão do Vale", Carmo não esconde sua identidade, exibindo tranças com orgulho enquanto comanda um clube com aspirações ambiciosas no cenário nacional. Em uma temporada recente, o Cianorte esteve à beira de um feito histórico, alcançando a decisão pelo acesso à Série C do Campeonato Brasileiro, mas foi superado pelo Barra nos instantes finais.

Assumindo a presidência em 2024, a jornada de Carmo no futebol teve início com o desejo de se tornar atleta. Ele integrou as categorias de base do Santos , contemporâneo de um jovem Neymar que já demonstrava seu brilho. No campo, a diversidade racial era evidente. Contudo, a transição para uma carreira executiva revelou um panorama diferente, com a diminuição notável de profissionais negros. "O esporte traz essa questão de ter várias raças, e quando sai para áreas que não são só pelo talento esportivo, quando você precisa ser visto não só como mão de obra, você vê a escassez de oportunidade", pontuou o dirigente em entrevista.

A Luta por Representatividade: De Santos ao Comando de uma SAF

Enfrentando o preconceito em sua posição executiva, Gustavo Carmo oferece uma análise contundente: o futebol é um espelho da trajetória brasileira, marcada por uma escravidão tardiamente abolida e cujas ramificações sociais persistem. "O futebol na verdade é um reflexo da sociedade. O jogo ficou cada vez para uma elite e eu penso que a elite brasileira ainda pensa dessa forma. Tanto que nós estamos falando que em cargos diretivos, ainda é minoria o meu caso. Eu acredito que a sociedade precisa ser tratada, não é só o futebol", argumenta.

Ele complementa, ressaltando a complexidade da questão: "O nosso país é uma mistura de raças, que foi formado com essa questão da escravidão. Faz muito pouco tempo que o Brasil aboliu a escravidão, é uma discussão muito profunda. Mas o futebol poderia ter mais negros em cargo fora do campo." Para Carmo, a visibilidade é fundamental: "Eu fico muito feliz quando vejo semelhantes a mim, pessoas negras de sucesso, não só no futebol. Isso precisa ser cada vez acontecer cada vez mais."

Nascido e criado no Guarujá, litoral paulista, Carmo recorda-se de uma infância e adolescência em que, frequentemente, era o único negro nos círculos sociais que frequentava. "Eu sempre me considerei uma pessoa privilegiada desde sempre, primeiro pelos meus pais que puderam me dar Uma excelente educação. Estudei sempre em colégio particular, o Santos me deu essa possibilidade de ser bolsista. Mas eu cresci na minha adolescência sendo o único da sala, né? Era visto como exceção à regra", relata o dirigente, destacando a dicotomia de seu privilégio e a constante percepção de ser uma singularidade.

A Trajetória Pessoal: Superação e Legado para a Nova Geração

A bússola moral de Carmo sempre foi sua família, ciente das adversidades inerentes à sua condição. Hoje, a emoção transborda ao mencionar o apoio de seus pais, que acompanham à distância sua ascensão nos bastidores do esporte. "Eu sempre fui uma pessoa muito bem orientada pelos meus pais. Sabia que por ser negro, em vários momentos eu teria que provar duas vezes. E graças a Deus o meu sucesso vem porque eu consegui provar duas vezes", enfatiza.

A verdadeira recompensa, para ele, reside no impacto de sua jornada: "O que me satisfaz e me faz refletir são as mensagens que recebo, a satisfação e o orgulho que eu vejo de onde eu vim, dos meus pais, da minha esposa. Quando eu lembro deles, me emociona. Isso para mim é o mais bonito", conclui, visivelmente tocado.

Após passagens pelas categorias de base do Santos e do América-RN, Carmo optou por encerrar sua carreira como jogador ao ser negociado com o Atlético-MG, onde também atuou na formação. Longe dos gramados, dedicou-se à agenciamento de atletas, viajando por diversos países em transações. Uma de suas negociações mais proeminentes como agente envolveu o atacante Yuri Alberto, ainda em seus primeiros passos profissionais.

A amizade com Neymar , forjada nos tempos do Peixe, perdura até hoje. Ambos mantêm contato regular e já compartilharam momentos como celebrações de Réveillon. Em junho passado, uma visita à residência do craque em Mangaratiba proporcionou um encontro inesperado com Lamine Yamal. O jovem talento do Barcelona, inclusive, posou com uma camisa do Cianorte, presenteada pelo próprio presidente.

Cianorte e o Futuro: Desafios e Aspirações de um Líder Visionário

Carmo ingressou no universo dos clubes em 2020, inicialmente prestando consultoria esportiva e, posteriormente, tornando-se sócio. O ano de 2022 marcou um ponto de inflexão em sua trajetória. Ele desfez sua parceria no Maringá para se associar ao Cianorte, engajando-se ativamente no processo de venda da SAF do clube. Em 2024, um consórcio sul-coreano adquiriu o "Leão do Vale" e elegeu Gustavo como presidente. "Por eu ter apresentado o projeto e por eu ter ser a pessoa que eles acreditaram, pediram para eu assumir o clube como presidente", explica Carmo.

Em sua posição, Carmo carrega consigo suas raízes e a convicção de que sua atuação representa um legado no futebol. "Eu acredito que que a forma como eu sempre me comporto, a forma como me visto, a forma como é meu cabelo, isso faz com que nem sempre eu agrade a todos", pondera. Ele reforça a importância de combater o preconceito: "No Brasil, onde a ente vê a questão da cor da pele ainda ser uma questão para as pessoas. Esse tipo de pessoa a gente tem que abominar, deixar de lado e focar realmente no que importa para a gente prosperar e crescer."

Sob a liderança de Gustavo Carmo, o Cianorte demonstra ambição em campo, disputando a final da Taça FPF contra o Azuriz no Albino Turbay, após uma vitória por 1 a 0 no jogo de ida. Para 2026, o clube já tem garantida a participação no Campeonato Paranaense, com início em 7 de janeiro, e uma vaga na Série D do Brasileiro. Além disso, o "Leão do Vale" vislumbra a Copa do Brasil, seja pela Taça FPF ou pela possibilidade de uma vaga adicional via estadual, caso o Athletico ascenda à Série A do Brasileiro.

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