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Caio Mota: De Joia do Santos a Herói no Catarinense | A Trajetória Inesperada
Por Redação FutSantos em 15/08/2025 14:43
O cenário é a Série B do Campeonato Catarinense, e o protagonista, Caio Mota, anota seu primeiro gol como profissional aos 24 anos. Mais de uma década se passou desde que Caio começou a exibir seus primeiros dribles, ainda nas quadras da categoria de base Sub-9 do São Paulo Futsal. Naquela época, o protagonismo era compartilhado com um jovem que viria a se tornar um grande astro do futebol mundial: Rodrygo, hoje no Real Madrid.
Atualmente, após despertar o interesse de clubes europeus, ser considerado uma promessa da base do Santos e enfrentar três graves lesões que resultaram em oportunidades perdidas devido a limitações físicas, Caio retorna ao futebol, aproveitando uma chance na Série B do Catarinense, onde finalmente concretiza o feito de marcar seu primeiro gol profissional.
O Brilho Precoce e a Conexão com Rodrygo
A qualidade de Caio rapidamente o diferenciou, impulsionando sua transição do futsal para os gramados. Sua primeira experiência em campos maiores foi no Palmeiras, onde permaneceu por dois anos antes de se transferir para o Audax. Foi no Audax que seu talento chamou a atenção de Fernando Diniz, um nome de peso no cenário futebolístico nacional, que chegou a comandar a Seleção Brasileira.
? Na época de Audax fiz muitos gols no paulista e fui fundamental para a equipe. Foi onde veio proposta do Santos , Athletico e Atlético Mineiro. Eu tinha um grande treinador na categoria de base, o Denis, tio do Rodrygo , do Real Madrid. Eu recebi um convite do Fernando Diniz, numa época que o Audax havia disputado a final do Campeonato Paulista. Ele me chamou para treinar com a equipe e, dentro de uns três treinos, ele foi até a diretoria conversar, pra me inscrever no estadual, mas não pôde por conta da idade ? conta em entrevista ao ge.
Apesar da impossibilidade de registro no Audax devido à idade, a trajetória de Caio o levou ao Santos , onde a concorrência era igualmente acirrada. No clube praiano, ele conviveu com talentos como Yuri Alberto, Kaio Jorge e Marcos Leonardo, que se tornaram amigos próximos. Contudo, a estrela de Caio continuava a brilhar nos campos, destacando-o em meio a tantos nomes promissores.
? Fui disputar um mundial com o Santos , na China, e fiz muitos gols, sendo artilheiro do campeonato e vice-campeão. Ganhamos do Wolverhampton na semifinal por 4 a 0, comigo anotando três gols. Surgiu interesse do Wolverhampton, Benfica e Porto. Tivemos reuniões, meu contrato estava terminando no Santos e não entramos em acordo da renovação ? relembra.
A Interrupção Brutal: O Calvário das Lesões
O término de seu vínculo com o Santos abriu caminho para uma nova oportunidade no Cuiabá, que acabara de ascender à Série A. O que parecia ser um novo capítulo promissor, contudo, transformou-se em um pesadelo.
? Cheguei na segunda-feira, estreei no estadual em Mato Grosso e no primeiro treino de domingo eu tive minha lesão, quebrei o pé no treino. Fiz minha primeira cirurgia, no quinto metatarso. Passei uns cinco a seis meses de recuperação, voltei no segundo semestre e joguei a Copa Verde e Sub-23 do Brasileiro ? conta o atacante.
Com um contrato de dois anos no Dourado, a lesão comprometeu sua utilização no elenco principal. O Botafogo-SP surgiu então com uma proposta de empréstimo para o Paulistão, Copa do Brasil e Série C. A expectativa era alta, mas, ironicamente, a história se repetiu.
? Foi um início de ano muito bom, porque eu já tinha me recuperado e me sentia bem. Eu tive minha segunda lesão de novo em treino, uma fatalidade, quebrei o tornozelo e mais uns quatro a cinco meses de recuperação no pós-cirúrgico. Eu voltei no final de ano, em fevereiro, sai por término de contrato. Em seguida. eu tive uma passagem pela Ponte Preta, mas nem joguei porque ainda estava me recuperando ? relembra.
A descendência na hierarquia das competições parecia inevitável, e uma nova chance surgiu no Campeonato Paulista A2, com o Oeste. Pela terceira vez, no entanto, o sonho de uma estreia consistente foi frustrado por um revés físico.
? Me apresentei em novembro para a preparação do A2. Foi onde tive esse acidente com o joelho e foi a mais grave. Eu operei e fiquei um ano e três meses parado. Eu lembro com detalhes do dia que me machuquei, liguei pro meu pai e falei "aconteceu de novo" ? conta.
A Persistência Forjada na Adversidade Diária
De volta à casa dos pais, Caio iniciou uma árdua batalha pessoal para retornar aos gramados, contando com o suporte familiar e de seu empresário. Sua rotina incluía acompanhamento com personal trainer, academia e fisioterapia de segunda a sábado. Nesse período de incertezas e recomeços, a chegada de seu filho, Lucca, trouxe um novo alento e motivação.
O tratamento de fisioterapia era realizado em Santo André, a cerca de 40 quilômetros de sua residência. Para não sobrecarregar seus pais, que já arcavam com grande parte de suas despesas, Caio buscou uma alternativa de renda que pudesse ser conciliada com sua intensa rotina de recuperação, mantendo-o ativo e pronto para o esporte.
? Eu me cadastrei em uma plataforma de motorista por aplicativo para pelo menos na ida e volta conseguir custear a gasolina. Eu saia de casa três horas antes e fazia o trajeto todo aceitando passageiros. Quando eu tinha um tempo livre durante a noite eu também trabalhava ? relembra o atacante.
Foram dez meses de preparação rigorosa até que Caio estivesse apto a retornar aos campos. Nesse momento crucial, o Blumenau Esporte Clube, por meio de seu departamento de scout, identificou o atleta e ofereceu uma oportunidade para disputar a Série B do Campeonato Catarinense, em um clube que recentemente adotara o modelo de SAF.
Caio aceitou a proposta, compartilhando sua história de superação. Em poucas semanas, ele se mudou para Santa Catarina, deixando o filho e os pais. Após três jogos no banco de reservas, o reencontro com os gramados finalmente aconteceu.
O Renascimento e o Gol Inesquecível
Em sua primeira partida pelo Blumenau, Caio atuou por 23 minutos e contribuiu indiretamente para a goleada de 6 a 0 sobre o Porto União. Em seguida, ficou fora de duas partidas, retornando na sétima e última rodada da primeira fase. Entrando aos 23 minutos do segundo tempo, ele foi decisivo para a classificação da equipe na primeira colocação da tabela, registrando uma assistência e, finalmente, seu primeiro gol como profissional.
? Eu nem dormi no dia antes do jogo, pensando nisso. Desde o momento da minha cirurgia eu já pensava na minha volta e sonhava com meu primeiro gol. Eu trabalhei meu mental para aquele momento. Foi uma sensação inexplicável. Rodou um filme na minha cabeça, em questão de segundos, de tudo que passei ? relembra.
Atualmente, o Blumenau Esporte Clube busca garantir sua vaga na elite do Campeonato Catarinense. A equipe perdeu o primeiro confronto da semifinal contra o Camboriú por 1 a 0, fora de casa. A partida de volta está agendada para este domingo, às 15h (de Brasília). Caio Mota estará presente, um testemunho vivo da resiliência e do potencial que, apesar das adversidades e das lesões, ele sempre soube que possuía.
? Eu sou muito feliz com tudo que vivi, independentemente das lesões. Eu sinto que só retardou um pouco o processo, não vai deixar de acontecer. Todos nós temos um tempo, propósito e processo diferente. Só tenho a agradecer a Deus pelo que estou vivendo ? conclui.
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